Anunciado em abril pelo governo como nova opção de crédito e uma alternativa para o trabalhador trocar uma dívida cara por outra mais barata, o crédito consignado com o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia ainda é promessa e não está sendo oferecido pelos bancos.
O crédito consignado pode ser contratado por servidores públicos,
privados e aposentados. Trata-se de umas linhas de crédito com menor
risco para os bancos, já que a parcela do empréstimo é descontada na
folha de pagamento ou da aposentadoria.
A proposta da nova linha com garantia do FGTS prevê reduzir ainda mais o
risco para os bancos - e consequentemente as taxas de juros cobradas
dos clientes. Se o trabalhador não pagar, o banco pode reter parte do
seu FGTS para quitar o saldo devedor.
Em caso de inadimplência, o banco pode ficar com até 10% do saldo do
trabalhador. E, se ele for demitido, o banco tem acesso a 100% da sua
multa rescisória, que equivale a 40% do saldo do seu Fundo.
Baixa adesão
O G1
confirmou que Caixa Econômica, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e
Citibank ainda não lançaram linhas de crédito nessa modalidade. O único
entre os grandes bancos que oferece a linha é o Santander, mas apenas em
um projeto-piloto com uma única empresa.
As instituições financeiras ainda não estão totalmente confortáveis em
relação à atratividade e garantias da nova modalidade, apurou a
reportagem.
Procurados pelo G1,
Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Citibank
informaram que ainda avaliam como operar a nova modalidade para poder
começar a oferecer esta linha de crédito para os funcionários de
empresas que já têm convênios com os bancos.
A Caixa afirmou que "está desenvolvendo as adequações internas
necessárias, a fim de proporcionar o início das contratações". O Banco
do Brasil disse que "continua avaliando a medida".
O Itaú Unibanco afirmou que "está desenvolvendo o produto para
disponibilizar a modalidade aos seus clientes”. O Bradesco informou que
"está avaliando as condições para oferta da linha". O Citibank também
disse estar avaliando, destacando que "não há data definida ou as
condições em que será ofertado".
O Santander foi o único que já lançou um programa piloto de crédito
consignado garantido pelo FGTS. Por enquanto, a linha só está disponível
para os funcionários de uma empresa, a Ser Educacional, dona de
universidades privadas.
Segundo o Santander, o volume total de contratações de crédito
consignado cresceu 30% entre os funcionários da Ser Educacional após o
lançamento do projeto piloto.
"Estamos em conversas para ampliar isso para outras empresas. Já
estamos em fase avançada com algumas. Mas precisamos primeiro testar os
fluxos operacionais", disse o superintendente de crédito à Pessoa física
do Santander, Eduardo Jurcevic.
Entraves para tirar linha do papel
O crédito consignado para trabalhadores do setor privado é considerado
mais complexo do que o feito para o funcionalismo e aposentados. A
dificuldade de análise de risco é maior e também o seu custo
operacional.
Dos R$ 300 bilhões de empréstimos consignados concedidos até junho,
apenas 6% foram para trabalhadores do setor privado, segundo dados do
Banco Central.
"Uma coisa é o funcionário público que tem estabilidade. Outra coisa é a
rotatividade no setor privado, em que dependendo do ramo de atividade
um funcionário fica em média só 1 ano e meio na empresa e não tem mais
vínculo", disse um executivo de banco que falou ao G1 na condição de anonimato.
Embora não falem publicamente sobre os obstáculos e resistências em
relação à nova modalidade com FGTS como garantia, os bancos aguardam um
reforço nas garantias. Eles também esperam um melhor aperfeiçoamento no
sistema de gestão dos dados do fundo de garantia, que assegure o
bloqueio e transferência da garantia em caso de inadimplência e
demissão.
"Por mais que a gente queira fazer, existe uma fragilidade operacional
da Caixa. Para deslanchar, os bancos precisam ter a segurança que o
saldo [garantia] será bloqueado em caso de inadimplência ou
desligamento", afirmou o executivo.
Crédito bancário em queda
Para o diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de
Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, a atividade econômica
ainda fraca, o alto desemprego e o crédito em queda no país também
ajudam a explicar a demora para o consignado com o FGTS entrar de fato
na prateleira dos bancos.
"Os bancos estão muito restritivos e seletivos no crédito, e de certa
forma com um pé atrás", afirma Oliveira. "Num momento em que a atividade
está em processo recessivo ou baixo crescimento e o cenário é de
incerteza, isso significa que a pessoa pode perder o emprego e não pagar
o empréstimo", completa.
Segundo o Banco Central, o volume total do crédito bancário registrou
queda de 0,9% no primeiro semestre. Já taxa de inadimplência das pessoas
físicas, nas operações com recursos livres (exclui crédito imobiliário,
rural e do BNDES), ficou em 5,8%.
Vantagens do consignado
Em junho, a taxa média cobrada dos trabalhadores do setor privado no
crédito consignado ficou em 41,8% ao ano. Para servidores e
beneficiários do INSS, os juros médios no consignado em junho ficaram em
25,8% e 27,8% ao ano, respectivamente.
A expectativa do governo é que com a garantia do saldo do FGTS, os
juros médios do consignado possam cair e que os prazos de pagamento
possam ser alongados.
Apesar dos juros menores do que outras modalidades de crédito (veja tabela abaixo),
consultores financeiros e economistas alertam que é preciso avaliar com
cuidado. O trabalhador precisa avaliar se vale a pena sacrificar a sua
principal reserva em caso de desemprego para cobrir uma dívida.
"Para quem está no cheque especial ou no cartão de crédito rotativo,
pode ser uma opção interessante. Mas, primeiro, a linha precisa estar à
disposição", resume Oliveira.
Fonte: G1.
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