Pedido foi feito pelo Escola Sem Partido. Inep afirmou que vai recorrer.
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Cadernos do Enem 2016 (Foto: G1) |
Uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região suspendeu o item do edital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
que prevê nota zero para quem desrespeitar os direitos humanos na
redação. A decisão foi tomada em ação protocolada pela Associação Escola
Sem Partido e foi divulgada nesta quinta-feira (26). O Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou que ainda não notificado oficialmente, mas assim que for, irá recorrer.
A redação do Enem será aplicada no primeiro dia de provas, em 5 de novembro.
Em sua decisão, o desembargador federal Carlos Moreira Alves, do TRF da
1ª Região, afirma que o "conteúdo ideológico do desenvolvimento do tema
da redação é, ou deveria ser, um dos elementos de correção da prova
discursiva, e não fundamento sumário para sua desconsideração, com
atribuição de nota zero ao texto produzido, sem avaliação alguma em
relação ao conteúdo intelectual desenvolvido pelo redator."
O desembargador argumenta ainda que há "ausência de um referencial
objetivo no edital dos certames" e que a "ofensa à garantia
constitucional de liberdade de manfestação de pensamento e opinião
também é vertente dos direitos humanos propriamente ditos."
No pedido feito ao TRF1, Escola Sem Partido sustentou que o item em
questão não é um critério objetivo e tem “caráter de policiamento
ideológico.” “Ninguém é obrigado a dizer o que não pensa para entrar na
universidade. O edital viola o direito de livre expressão do pensamento
do candidato”, diz Romulo Martins Nagib, advogado do movimento, em
entrevista ao G1.
Nagib também refuta a justificativa do governo de “prevenção de
discursos de ódio” para proibir que sejam escritas ideias que não venham
ao encontro dos direitos humanos porque “a prova de redação não é
pública, não existe publicidade.”
O que é desrespeito aos direitos humanos?
É uma das competências exigidas para a redação do Enem é elaborar uma
"proposta de intervenção" para o problema abordado no tema da redação. A
proposta precisa respeitar os direitos humanos.
No manual de redação divulgado pelo Ministério da Educação como guia
para os candidatos, há exemplos de ideias que ferem os direitos humanos e
receberiam nota zero. São elas:
- defesa de tortura;
- mutilação;
- execução sumária;
- qualquer forma de “justiça com as próprias mãos”, isto é, sem a intervenção de instituições sociais devidamente autorizadas (o governo, as autoridades, as leis, por exemplo);
- incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica;
- explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos).
O manual esclarece que qualquer menção ou apologia a tais ideias em qualquer parte da redação levaria à anulação do texto.
Exemplos de frases "nota zero"
O MEC divulgou alguns exemplos de trechos que levaram à atribuição de
nota zero a redações de participantes do Enem 2016 por ferirem os
direitos humanos. No ano passado, o tema foi "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”.
Veja trechos com desrespeito aos direitos humanos escritos pelos candidatos:
- “para combater a intolerância religiosa, deveria acabar com a liberdade de expressão”;
- “podemos combater a intolerância religiosa acabando com as religiões e implantando uma doutrina única”;
- “o Estado deve paralisar as superexposições de crenças e proibir as manifestações religiosas ao público”;
- “a pessoa que não respeita a devoção do próximo não deveria ter direito social, como o voto”;
- “a única maneira de punir o intolerante é o obrigando a frequentar a igreja daquele que foi ofendido, para que aprenda a respeitar a crença do outro”;
- “que o indivíduo que não respeitar a lei seja punido com a perda do direito de participação de sua religião, que ele seja retirado da sua religião como punição”;
- “por haver tanta discriminação, o caminho certo que se tem a tomar é acabar com todas as religiões”;
- “que a cada agressão cometida o agressor recebesse na mesma proporção, tanto agressão física como mental”;
- “o governo deveria punir e banir essas outras “crenças”, que não sejam referentes a Bíblia”.
G1.
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