
O Ministério
Público do Rio Grande do Norte (MPRN) deflagrou nesta segunda-feira (27)
a operação 10° Mandamento, que apura fraudes em contratos públicos da
Câmara Municipal de Guamaré. O vereador Emilson de Borba Cunha e outras
dez pessoas foram presas por suspeita de terem cometido os crimes de
peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, fraude a licitações e
ocultação de bens e valores. Além dos 11 mandados de prisão, com o apoio
da Polícia Militar, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas
residências dos investigados e na sede do Poder Legislativo de Guamaré.
As
investigações da operação 10° Mandamento foram iniciadas em maio do ano
passado e tratam de crimes cometidos entre 2017 e 2018, período em que
Emilson de Borba Cunha, conhecido por Lula, era presidente da Câmara
Municipal de Guamaré. Ademais, foi verificada a continuidade da prática
dos crimes, mesmo após esse período, se estendendo até os dias atuais.
Além dele,
foram presos preventivamente Júlio César Costa de Oliveira,
ex-diretor-geral da Câmara; Júlio César Cerqueira de Oliveira, ex-chefe
de Departamento de Almoxarifado e presidente da Comissão de Licitações; e
os empresários Rogério Soares de Lima e Leandro Régis da Silva.
Foram presos
temporariamente: Geraldo de Morais Lima, José Wilton Belarmino do
Nascimento, Mônica da Silva Barros de Oliveira, Adeilson da Silva
Miranda, Priscilla Laurindo da Silva e Ana Paula da Silva.
A operação 10°
Mandamento contou com a participação de 23 promotores de Justiça, 53
servidores do MPRN e ainda 97 policiais militares. Os mandados de prisão
e de busca e apreensão foram cumpridos nas cidades de Natal, Guamaré,
Parnamirim e Extremoz.
O MPRN levantou
que o grupo agia de forma estruturalmente ordenada com objetivo de
obter, direta ou indiretamente, vantagens indevidas derivadas da prática
dos crimes de peculato, de corrupção passiva, de desvios de verbas
feitos por meio de contratos superfaturados celebrados através de
licitações fraudulentas.
As
investigações apontam que, sistematicamente, parte do dinheiro público
destinado pela Câmara Municipal às empresas acabava indo para as contas
bancárias dos chefes do esquema.
Emilson de
Borba atuava como mentor intelectual da organização em razão do alto
cargo que ocupava. Ele ordenava a produção dos processos licitatórios
fraudulentos e a comunicação com os empresários ganhadores das
licitações, dispensas ou inexigibilidades fora das hipóteses legais,
tendo, em várias oportunidades, sido usado como referência para
concretização dos negócios ilegais.
Para cometer os
delitos, a organização criminosa, além de ser formada por agentes
públicos, era estruturada por “empresários” que criaram empresas
“fantasmas”, que não possuíam em seus registros dados sobre funcionários
ou veículos. A investigação revelou que a maioria dos “empresários”
ganhadores das licitações tinha vínculo afetivo ou familiar com
funcionários da Câmara Municipal de Guamaré. Verificou-se ainda que
parte do dinheiro destinado às empresas era repassado para laranjas que
integravam o esquema, como forma de mascarar o real destino do
numerário.
O esquema
O MPRN
constatou que no ano de 2017 foram feitas 79 contratações, das quais
somente 18 foram precedidas de alguma licitação, ou seja, pouco mais de
20%. A maioria dos contratos foi feita a partir de dispensa: 53, que
representa 67% do montante total da quantidade de processos
licitatórios. As investigações comprovam que as licitações na Câmara
Municipal foram feitas de forma esporádica e excepcional, quando
deveriam ser a regra para contratação, o que fragiliza os controles
públicos.
A partir das
fraudes na origem das contratações, ficou demonstrado que várias
empresas, cujos proprietários faziam ou fazem parte da organização
criminosa, foram constituídas em datas próximas às contratações com o
fim único de superfaturamento e desvio de verbas ou bens públicos.
As contratações
eram direcionadas a parceiros do grupo de servidores capitaneado pelo
então presidente da Câmara e as empresas que, em troca, pagavam propinas
aos servidores com dinheiro advindo do superfaturamento dos contratos
públicos. A maioria das empresas ganhadoras era apenas de “fachada”,
tendo sido criadas para exclusivamente concorrem e ganharem os certames
licitatórios.
Patrimônio e movimentação bancária
O MPRN apurou
que o patrimônio de Emilson de Borba, considerado o ator principal na
prática de ilícitos penais contra a administração pública, consoante
apurado no curso da operação 10° Mandamento, teve uma evolução
patrimonial descomunal nos anos entre 2015 e 2017. O patrimônio dele era
de R$ 0 em 2015, saltou para R$ 354.517,59 em 2016 e de R$ 348.000,00
em 2017. Para o MPRN, o patrimônio declarado por Emilson de Borba é
acima dos rendimentos dele auferidos durante os três anos pesquisados.
O
ex-diretor-geral da Câmara Municipal de Guamaré, Júlio César Costa de
Oliveira, tinha como principal função no esquema solicitar as
contratações e direcioná-las para serem realizadas de forma
fraudulentas. Além disso, também atuava na produção formal de todo
procedimento licitatório, cabendo apenas aos demais responsáveis
assinarem os documentos. A movimentação financeira extraída da
declaração de informações sobre movimentação financeira dele nos anos de
2015 a 2017 foram bem maiores do que os próprios rendimentos. Em 2016, a
movimentação bancária dele ultrapassou cerca de 948% dos rendimentos
líquidos. No ano seguinte, as movimentações bancárias do investigado
ultrapassaram em 426% seus rendimentos. Júlio César Costa de Oliveira é
considerado o principal aliado de Emilson de Borba no cometimento dos
crimes.
Blog do Barreto.
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