Embora
seja muito mais comum em idosos, a fibrilação atrial (FA) também pode
afetar os jovens, principalmente os que consomem frequententemente
substâncias psicoativas 1 e bebidas alcoólicas

A fibrilação atrial (FA), é o tipo de arritmia cardíaca mais comum do mundo2
e leva o coração a bater em um ritmo irregular e descompassado que pode
aumentar em cinco vezes o risco de acidente vascular cerebral (AVC)2. A doença é mais comum em adultos, – atingindo principalmente pessoas na
faixa dos 65 aos 85 anos2. Porém, adolescentes e jovens adultos estão sendo acometidos pela FA, principalmente por conta do consumo excessivo de cafeína1 e de bebidas alcoólicas.
Uma
das substâncias psicoativas mais populares na atualidade, a cafeína,
pode ser encontrada em grande quantidade nas bebidas energéticas, em
folhas de chás, grãos de café, cacau, entre outros. "Uma vez ingerida,
pode estimular o sistema nervoso central e periférico por meio de uma
propriedade dopaminérgica, também conhecida como neurotransmissora do
prazer1.
Por isso, a relação entre a substância e os jovens é preocupante. O
consumo da cafeína pode proporcionar uma euforia momentânea, mas que
dependendo da quantidade e frequência do consumo, pode aumentar o risco
de doenças como a FA", conta o o cardiologista Dr. Marcelo Goulart
Paiva.
Em
um adulto saudável, por exemplo, a cada 2,5 a 10 horas o organismo
elimina metade da cafeína encontrada no sangue. A população no geral tem
sensibilidade que varia de indivíduo para indivíduo quanto aos seus
estimulantes1. Dessa forma, com a crescente popularidade das bebidas energéticas entre os jovens, os médicos devem estar cientes do potencial
arritmogênico ligado ao seu consumo.
"Além
do consumo de cafeína, a FA em jovens também está relacionada a outros
fatores como a ingestão de bebidas alcoólicas, principalmente durante os
finais de semana. É o que chamamos de 'fibrilação atrial do feriado'.
Outro ponto é a obesidade, pois ela está associada com um aumento de
gordura epicárdica, que é um depósito de gordura
visceral, localizado entre o coração e o pericárdio, com potencial
implicação na saúde cardiovascular"3, complementa o médico. A
idade, problemas cardíacos, hipertensão, doenças crônicas – diabetes,
insuficiência renal ou doença pulmonar –, e histórico familiar4 também podem estar relacionados ao desenvolvimento da FA.
No
Brasil, ainda há um fator que contribui para o diagnóstico tardio e,
consequentemente, para a falta de tratamento adequado: o desconhecimento
da doença pela população. De acordo com a pesquisa "A Percepção do
Brasileiro sobre Doenças Cardiovasculares", encomendada pela Boehringer
Ingelheim em parceria com o IBOPE CONECTA5, 66% das pessoas entrevistadas conhecem
as doenças cardiovasculares, como o AVC, segunda causa mais comum de morte no mundo6-7e uma das principais causas de incapacidade adquirida e internações em todo o mundo8.
Porém, 63% nunca ouviram falar sobre a fibrilação atrial, doença cujo
tratamento é essencial para redizuir o risco de AVC isquêmico e suas
possíveis sequelas.
Assim
como na grande maioria das doenças, o diagnóstico precoce de FA é um
forte aliado do paciente para evitar complicações. "Basicamente, o
tratamento age em três frentes: reverter a FA, controlar a frequência
cardíaca e impedir a formação de coágulos dentro dos átrios9. E parte deste tratamento consiste no uso de medicamentos para
"afinar" o sangue – os chamados "anticoagulantes, responsáveis por reduzir o risco de AVC", finaliza o Dr. Marcelo.",
Muitos
dos AVCs relacionados à FA podem ser evitados com medicação
anticoagulante adequada. O etexilato de dabigatrana, por exemplo, é um
inibidor direto da trombina (DTI), enzima-chave da coagulação, usado
tanto para prevenção como para o tratamento de doenças tromboembólicas
agudas e crônicas10. A pesquisa "A Percepção do
Brasileiro sobre Doenças Cardiovasculares"5 revelou também
que 47% dos entrevistados com FA não fazem uso de medicação
anticoagulante, ficando mais expostos às complicações da doença.
"Este
dado pode ser justificado devido à preocupação da classe médica com
sangramentos, um dos principais efeitos colaterais dos anticoagulantes",
conta o cardiologista. Porém, já existe um agente reversor de efeito
imediato e momentâneo, que age especificamente revertendo a ação de
dabigatrana. Segundo o médico, o seu uso é exclusivamente hospitalar.
"Trata-se de um medicamento destinado a cirurgias emergenciais ou caso
de sangramentos incontroláveis que podem ser ocasionados por acidentes",
finaliza.
Já
para prevenir a doença, seja ela em jovens ou idosos, uma recomendação
muito importante está relacionada à mudança de estilo de vida. É
necessário controlar a hipertensão arterial e os níveis de colesterol,
tratar outras doenças cardíacas, fazer uma reeducação alimentar, evitar o
consumo exagerado de cafeína, praticar
atividades física frequentemente, interromper o tabagismo e restringir o
consumo de álcool9.
Referências
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